Trabalho começou nesta sexta (8) e deve seguir até maio

Séculos de história estão sendo postos à céu aberto no Centro de Salvador. Quadrados de um metro de espessura, largura e profundidade serão abertos no asfalto da Avenida Sete de Setembro por arqueólogos e técnicos, até maio, em busca de elementos históricos. A ação é chamada de "prospecção arqueológica" e acontece antes das obras de revitalização do Centro Histórico, que serão realizadas pela prefeitura.

O primeiro ponto de sondagem foi aberto parcialmente na sexta-feira (8). Nele, já foi possível encontrar paralelepípedo da Avenida Sete original, que foi construída entre 1914 e 1917, e trilhos do bonde que passava no local.

"Nós procuramos marcos históricos, dados primários. Fizemos uma pesquisa histórica em dezembro e identificamos o que já havia sido investigado: o paralelepípedo abaixo da camada asfáltica. A nossa intenção é explorar o que está abaixo do paralelepípedo", explicou o arqueólogo e coordenador da pesquisa, Cláudio César Souza e Silva.

De acordo com ele, é possível encontrar vestígios históricos ou até mesmo ossadas dos primeiros povos que habitaram a região - antes mesmo da chegada dos portugueses em 1500.

"Existem dados históricos que dizem que havia grupos sociais de indígenas que viviam aqui antes dos portugueses chegarem. Podemos explorar isso", explicou Silva.

 

História

O secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco, explicou que o processo de prospecção arqueológica é necessário por conta da historicidade do local.

"A Avenida Sete, Castro Alves, são áreas tombadas no Centro Antigo. Isso exige um processo de planejamento, diagnóstico histórico e plano de arqueologia, que foi submetido ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e aprovado", ressaltou Tinoco. 

De acordo com ele, a pesquisa histórica detectou que é possível encontrar, no processo de exploração, bases de construções antigas que foram demolidas no processo de alargamento da avenida, além de elementos como utensílios e louças dessas casas. 

No entorno do Mosteiro de São Bento, por exemplo, deve haver ossadas, por conta da tradição de se enterrar corpos próximos ao altar da igreja, praticada por católicos para estarem mais próximos aos santos.

Ainda segundo Tinoco, as peças históricas que forem encontradas serão retiradas do local para possibilitar a ampliação das perfurações. "Existem outras possibilidades também. Temos experiências em Salvador, por exemplo, com a Praça da Sé,  quando encontramos as bases da Igreja da Sé, hoje aberta com a exposição das bases da igreja com um caráter histórico e patrimonial", disse.

O CORREIO esteve no local. O buraco aberto na sexta-feira (8) foi fechado com uma espécie de areia e o entorno foi interditado.

Os lojistas já sabiam da intervenção e aprovam. "Eles estão fazendo a primeira etapa, não é? Tivemos uma reunião da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) com a prefeitura que explicou como seria feito. O bom é que não vai ter que parar o movimento da rua", disse Dilson Figueiredo, proprietário da loja Dois Pontos Bordados de Jalecos. 

Ao lado dele, Marilene Oliveira, lojista da Templo Indiano, também elogiou a intervenção. "Teve uma reunião, então eu já sabia de tudo. Eles estão molhando para não levantar poeira e sendo cuidadosos, mas mesmo assim é um barulho grande", riu, dizendo que acredita que ficará "mais bonito" pelo que viu na apresentação da prefeitura.

 

Intervenções

A primeira etapa da prospecção está sendo realizada no trecho entre a  Casa D’Itália (Campo Grande) e  Mercês e deve ser concluída em março.  As escavações são realizadas sempre na parte lateral esquerda da Avenida Sete, sentido Praça Castro Alves. Desta forma, os motoristas devem estar atentos no local.

O segundo trecho, entre as Mercês e o São Bento, será iniciado em março. O terceiro trecho vai do São Bento à Praça Castro Alves e deve ter as escavações finalizadas em maio. O serviço será realizado nos dias de semana, das 8h às 18h. 

O trecho entre a Casa D'Itália até a Praça Castro Alves receberá a revitalização da prefeitura de Salvador, que contará com investimento de R$ 17,5 milhões e deve durar um ano e dois meses. Dentre as alterações propostas pelo projeto estão a  troca do asfalto, a ampliação das calçadas em pedra portuguesa, além da implantação de fios subterrâneos e rampas de acessibilidade.

 

Fonte: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/o-que-tem-debaixo-da-avenida-sete-arqueologos-buscam-de-ossadas-a-loucas/



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